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Como resultado da maturação de medidas do governo, principalmente a
  desoneração da folha salarial e o novo nível do dólar, a indústria de
  vestuário e a de calçados dão sinais de recuperação, com melhora de
  desempenho de produção industrial e de criação de empregos acima da média da
  indústria de transformação. O mercado internacional também voltou a entrar no
  radar dos dois setores, que já começaram a reduzir preços de exportação. A
  expectativa é de melhora no segundo semestre, embalados pela sazonalidade favorável
  e ampliação do benefício da desoneração. 
Em julho, o setor têxtil e de vestuário criou número de vagas seis
  vezes maior que o de julho de 2011. O desempenho fez o segmento gerar 2,1%
  mais postos no acumulado de janeiro a julho. Em julho, a indústria de
  transformação também teve elevação na criação de empregos, mas de apenas
  4,7%. Os calçadistas também tiveram evolução acima da média. Em julho tiveram
  alta de 16% na geração de empregos. No acumulado houve redução de saldo de
  1,7%. A perda, porém, é menor que a da indústria de transformação, que criou
  43,4% menos empregos no acumulado. Os dados são do Ministério do Trabalho. 
Desde dezembro os dois segmentos foram beneficiados com a troca da
  cobrança da contribuição previdenciária de 20% sobre folha pelo recolhimento
  de 1,5% sobre a receita. Aguinaldo Diniz, presidente da Associação Brasileira
  da Indústria Têxtil (Abit), lembra que a desoneração contribui de forma
  conjunta a outras medidas importantes, como a redução da taxa de juros e a
  desvalorização do real. 
A geração de mais postos de trabalho foi acompanhada de melhora na
  produção. Em junho a produção industrial do setor de vestuário e acessórios
  estava com queda de 14,1% em relação ao mesmo mês do ano passado, segundo o
  Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em julho, a redução
  de produção se manteve, mas com queda mais amena, embora ainda
  representativa, de 6,4%. A indústria de calçados saiu de uma queda de 6,7% em
  junho para redução de apenas 0,7% em julho. A indústria de transformação
  também teve melhora no nível de produção, mas em menor escala, saindo de uma
  redução de 5,9% em junho para queda de 3% em julho. 
Para Julio Gomes de Almeida, consultor do Instituto de Estudos para o
  Desenvolvimento Industrial (Iedi), calçados, têxteis e vestuário mostraram
  desempenho "menos ruim" nos últimos meses. Para ele, todas as ações
  do governo tiveram influência, mas as que mais contribuíram foram o câmbio e
  a desoneração da folha. "A economia não melhorou drasticamente nos últimos
  meses, o que levaria por si só a uma elevação da indústria. As exportações
  também não melhoraram, pois o mercado externo está em retração. A não
  influência desses fatores deixa mais claro que as medidas do governo é que
  fizeram diferença sobre a indústria." 
O desempenho da produção, porém, ainda acumula perda de janeiro a
  julho. O setor de vestuário tem queda de 12% no acumulado e o de calçados,
  redução de 4,4%. José Carlos Brigagão do Couto, presidente do Sindicato das
  Indústrias de Calçados de Franca (Sindifranca), diz que o primeiro semestre
  foi difícil. "Em Franca conseguimos manter o mesmo nível de emprego de
  2011, o que consideramos de bom tamanho." 
Couto, diz, porém, que houve melhora de encomendas em junho e julho, o
  que gera boa expectativa para o segundo semestre, quando a sazonalidade está
  a favor dos dois segmentos. "As famílias também estão endividadas e em
  vez de comprar linha branca e veículos, que têm benefício do IPI, comprarão
  bens mais acessíveis." 
Na contramão dos números gerais da indústria, a Döhler aumentou a
  produção em relação a 2011. A desoneração da folha teve efeito máximo porque
  a empresa não possui mão de obra terceirizada, e por isso tinha antes pesada
  contribuição previdenciária. A desvalorização do real ajudou a competir com o
  produto estrangeiro, principalmente o asiático. Nos seis primeiros meses do
  ano em comparação com igual período de 2011, a produção da empresa de peças
  de cama, mesa e banho cresceu 4,5%, com uso de 100% da capacidade e projeções
  de ampliação da fábrica para o segundo semestre. Segundo o diretor-comercial
  Carlos Alexandre Döhler, dez novos teares entrarão em operação até dezembro. 
Já Rogério Dreyer, diretor-executivo da Associação Brasileira da
  Indústria de Calçados (Abicalçados), explica que a desoneração não teve efeito
  uniforme. Os calçadistas que possuem alto nível de terceirização ficaram com
  carga tributária neutra na troca da contribuição cobrada sobre folha pela
  calculada sobre faturamento. 
A gaúcha Roanna ilustra o efeito desigual da desoneração. Cerca de 90%
  de sua produção vai para terceiros. Seus 15 funcionários não integram a folha
  de salários da empresa que compra seus calçados. "E a desoneração também
  não teve efeito para nós porque pagamos os tributos pelo Simples",
  explica Ana Paula Kunrath, diretora da empresa. Segundo dados da Abicalçados,
  35% dos trabalhadores do setor estão em empresas de até cem funcionários, que
  tendem a usar o Simples. 
Mesmo assim, a Roanna se beneficia da melhora do setor. Durante o
  primeiro semestre, diz Ana Paula, a produção foi, em média, cem pares/dia,
  bem abaixo da capacidade de 250 pares/dia. Mas ela diz que as encomendas
  melhoraram em junho e julho. No segundo semestre, diz, a empresa deve
  trabalhar na capacidade máxima. 
Ana Paula diz que a segurança num câmbio mais favorável à exportação
  estimulou a empresa a voltar a exportar, algo que não fez em 2011. 
Segundo dados da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior
  (Funcex), em julho, o preço médio para exportação de vestuário e acessórios
  caiu 2,9% em relação ao mesmo mês do ano passado. O preço médio dos calçados
  e artefatos de couro também caiu 4,2%.  
Com preços menores, aumenta a
  capacidade de competir no mercado internacional. O setor de couros e calçados
  chegou a apresentar 1,7% de aumento no volume de exportação em julho, embora
  ainda tenha perda de 9,3% no acumulado de janeiro a julho. 
Rafael Schefer, diretor do Grupo Priority, ao qual pertencem as
  calçadistas West Coast e Cravo e Canela, diz que é difícil avaliar se o setor
  calçadista está em situação melhor do que o ano passado. No entanto, ele
  afirma que o mercado interno deve continuar crescendo, assim como as
  exportações estão mais competitivas com o câmbio. "O mercado não está em
  seu melhor momento, mas está andando. As empresas que estão fazendo
  diferente, evoluindo, vão continuar." 
O grupo, diz o executivo, está com produção física maior. Segundo
  Schefer, a desoneração inicial da folha não teve muito efeito, mas fez
  diferença desde agosto, quando a contribuição calculada sobre receita caiu de
  1,5% para 1%. Cerca de 20% do faturamento do grupo vem de exportação, o que
  torna o benefício mais vantajoso, já que a receita do exterior fica fora do
  cálculo da contribuição. 
A perspectiva para este ano, é que o grupo aumente até 25% do
  faturamento, ajudado também pelo aumento dos investimentos, com a instalação
  de máquinas novas e a desvalorização do dólar. A estimativa é que as duas
  empresas produzam 4 milhões de pares de calçados em 2012. | 
FONTE: VALOR
ECONÔMICO
 
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